O estômago também pode dar seus tropeços. Sua musculatura lisa pode conter tantos defeitos quanto a musculatura estriada das pernas. Além disso, quando algo como o ácido gástrico alcança lugares que não estão preparados para recebê-lo, ele queima. Na eructação ácida, o ácido gástrico e as enzimas digestivas chegam até a faringe; na azia, atingem apenas até o início do esôfago, causando queimação no tórax.
ERUCTAÇÃO ÁCIDA
A causa da eructação não é diferente da causa do tropeço: os nervos. Eles regulam a musculatura. Quando os nervos ópticos não percebem um degrau, os nervos da perna são mal informados. Nossas pernas se movimentam como se não houvesse nenhum obstáculo. Resultado: tropeçamos. Quando nossos nervos digestivos recebem informações erradas, não retêm o ácido gástrico e permitem que façam o percurso contrário.
A passagem do esôfago para o estômago é um local suscetível a esse tipo de tropeço – apesar das medidas de precaução (“esôfago estreito, sede fixa no diafragma e curva para o estômago”), às vezes as coisas saem errado. De todo modo, não se trata de um fenômeno novo: povos nômades que ainda hoje vivem como há centenas de anos também apontam altas taxas de azia e eructação.
Eis o ponto crucial: na região do esôfago e do estômago, existem dois sistemas nervosos diferentes que precisam trabalhar em estreita colaboração – o sistema nervoso cerebral e o do tubo digestivo. Os nervos do cérebro regulam, por exemplo, o esfíncter entre o esôfago e o estômago.
Além disso, o cérebro exerce influência sobre a formação do ácido. Os nervos do tubo digestivo cuidam para que o esôfago se mova para baixo, em ondas harmônicas, como uma ola, e sempre fique limpinho com os milhares de deglutições de saliva por dia.
DICAS PRÁTICAS CONTRA OS TROPEÇOS DO ESTÔMAGO – AZIA E ERUCTAÇÃO ÁCIDA
Beber chá auxilia o tubo digestivo na medida em que as várias e pequenas deglutições mostram aos nervos a direção correta a ser tomada: o estômago, e não o caminho inverso. Técnicas de relaxamento fazem com que o cérebro envie os comandos nervosos com menos agitação. No melhor dos casos, o resultado é um fechamento constante do esfíncter e menos formação de ácido.
O cigarro ativa áreas do cérebro que também são estimuladas durante a refeição. Assim, embora o indivíduo sinta-se bem, acaba produzindo mais ácido gástrico sem uma real necessidade e relaxando o esfíncter do esôfago. Por isso, muitas vezes, parar de fumar alivia a eructação desagradável e a azia.
Os hormônios da gravidez também podem desencadear alguma confusão. Na verdade, devem manter o útero relaxado e confortável até o parto. Contudo, também produzem esse efeito no esfíncter do esôfago.
A consequência é um fechamento mais frouxo do estômago, que, com a pressão exercida no baixo ventre protuberante, faz com que o ácido flua para cima. Quem faz uso de contraceptivo com hormônios femininos pode sofrer com mais frequência de eructação ácida como efeito colateral.
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NOSSOS NERVOS NÃO SÃO CABOS ELÉTRICOS COMPLETAMENTE ISOLADOS
Seja por causa do cigarro, seja pelos hormônios da gestação, nossos nervos não são cabos elétricos completamente isolados. São organicamente entremeados em nosso tecido e reagem a todas as substâncias ao seu redor.
Por isso, alguns médicos recomendam que se renuncie a vários alimentos que diminuem a força do esfíncter: chocolate, temperos apimentados, álcool, alimentos com alto teor de açúcar, café, e assim por diante.
Todas essas substâncias influem em nossos nervos, que não desencadeiam, necessariamente, um tropeço ácido em todas as pessoas. Modelos da pesquisa americana recomendam que se faça um teste para descobrir a quais alimentos os nervos reagem com sensibilidade. Assim, não é preciso renunciar desnecessariamente a tudo.
GLUTAMATO E OS TROPEÇOS DO ESTÔMAGO
Há uma interessante relação, descoberta através de um medicamento, que, por causa de seus efeitos colaterais, nunca teve seu uso autorizado. Esse medicamento bloqueia os nervos em um ponto em que, em geral, o glutamato se une aos nervos.
A maioria das pessoas conhece o glutamato como um realçador de sabor. No entanto, ele também é liberado por nossos nervos. Nos nervos da língua, o glutamato provoca uma intensificação dos sinais de sabor. No estômago, pode causar confusão, pois os nervos não sabem, necessariamente, se o glutamato vem do seu colega ou do restaurante chinês.
Por isso, de acordo com a ideia de fazer as próprias experiências, é melhor renunciar a alimentos ricos em glutamato por um tempo. Para tanto, é preciso levar os óculos de leitura ao supermercado e dar uma olhada nas minúsculas letrinhas da lista de ingredientes dos produtos.
Muitas vezes, o glutamato também se esconde em crípticas construções de palavras, como glutamato monossódico ou algo semelhante. Quando se percebe alguma melhora, tudo bem. Quando não, pelo menos se passou um tempo vivendo de maneira mais saudável.
ANTIÁCIDOS
Neutralizar o ácido do estômago não é uma solução nada boa! O ácido gástrico também corrói os alérgenos e bactérias ruins dos alimentos ou ajuda na digestão das proteínas. Além disso, alguns medicamentos antiácidos podem conter alumínio, que é uma substância muito estranha para o nosso corpo – ou seja, nunca se deve ingeri-la em excesso, e sim seguir rigorosamente as prescrições da bula.
No máximo após quatro semanas deve-se usar de certo ceticismo ao lidar com os antiácidos. Quem não ouvir esse conselho logo ficará conhecendo um estômago obstinado, que vai exigir seu ácido de volta.
Nesse caso, nosso estômago simplesmente produzirá ácido extra – primeiro para atenuar o medicamento e, além disso, para finalmente voltar a ser ácido. Antiácidos nunca são soluções a longo prazo – tampouco em outros fenômenos de acidez, como a gastrite.
Na maioria dos casos, a eructação e a azia são e permanecem inofensivas, mas não deixam de ser tropeços incômodos. Assim como ajeitamos a roupa, neutralizamos o susto com um abano de cabeça e continuamos a caminhar com moderação depois de tropeçar, podemos nos comportar de modo semelhante com a eructação – alguns goles de água para colocar a região em ordem e neutralizar o ácido e, em seguida, de preferência, continuar a caminhar com um pouco mais de tranquilidade.