A acne é uma doença quase onipresente no mundo civilizado.
Que tal conhecer um pouco sobre como a microbiota intestinal pode influenciar nisto?
PESQUISADORA ALANNA COLLEN
Em nome da pesquisa científica, a pesquisadora e autora do livro 10% Humano, Alanna Collen, visitou alguns locais mais isolados do planeta.
Grande parte do seu tempo longe da fria e úmida metrópole de Londres, foi gasta em habitats e culturas totalmente diferentes da dela.
Selvas onde pessoas caçavam gambás ou outros roedores para o jantar. Desertos onde o meio transporte mais rápido era um camelo. Comunidades nômades com aldeias inteiras flutuando em balsas no mar. Em todas elas, o dia a dia era diferente da vida no país da pesquisadora.
A comida era capturada, morta e consumida, sem necessidade de supermercados ou embalagens. O anoitecer trazia as trevas, rompidas apenas pelo lampião a óleo ou uma fogueira.
Uma doença sempre vem acompanhada da possibilidade bem real de morte iminente. Existem lugares onde uma criança dormindo pode perder um olho para uma galinhas. Um acidente de trabalho seria cair de uma árvore durante a coleta de mel. Ou ainda, a falta de chuva significaria nada de jantar. Ou seja, as refeições são o que você consegue cultivar ou capturar. Assim também, a assistência médica se limita a alguma erva e uma oração.
O que a pesquisadora Alanna Collen, não viu nos planaltos de Papua – Nova Guiné, a dezenas de quilômetros da estrada mais próxima, ou nas aldeias do mar de Sulawesi na Indonésia, foram pessoas com acne. Nem mesmo adolescentes.
ACNE NO MUNDO
Na Austrália, na Europa, nos Estados Unidos, no Japão, a acne é bem comum.
Mais de 90% das pessoas no mundo industrializado sofreram com as espinhas em algum ponto da vida. Os adolescentes são os mais atingidos, mas nas últimas décadas parece que a acne se espalhou para além deles.
Agora os adultos, principalmente as mulheres, continuam tendo acne quando chegam à casa dos 20 e dos 30 anos – e às vezes além.
Cerca de 40% das mulheres entre 25 e 40 anos ainda têm espinhas. Muitas delas nem sequer sofreram com esse problema quando eram adolescentes.
A acne leva mais pessoas ao dermatologista do que qualquer outro problema de pele. Como febre do feno, espinhas parecem parte da vida, sobretudo na adolescência.
Mas, se isso é verdade,porque as pessoas das sociedades pré-industriais não sofrem de acne também?
UMA BREVE REFLEXÃO
Um pouco de reflexão denuncia que o fato de tantas pessoas terem acne é absurdo. Ainda mais absurdo é que há poucas pesquisas para desvendar sua causa. Apesar do aumento inexorável dos casos, sobretudo entre adultos, que há muito tempo já passaram pela puberdade. Insiste-se na mesma velha explicação por mais de meio século: hormônios “masculinos” hiperativos, sebo em excesso, um frenesi de Propionibacterium acnes levando a uma reação imunológica feia, com vermelhidão, inchaço e glóbulos brancos (pus). Mas essa explicação não resiste a uma inspeção cuidadosa.
As mulheres com níveis mais elevados de andrógenos – os hormônios masculino considerados responsáveis pela acne – não são os casos mais severos da doença. E os homens, que têm níveis de andrógenos muito mais elevados, não sofrem de acne tanto quanto as mulheres.
Então o que está acontecendo?
MICROBIOTA E ACNE
Novas pesquisas indicam que estávamos procurando no lugar errado. A ideia de que a P. acnes causa acne já existe há décadas. Parece óbvio. Quer saber o que vem causando as espinhas? Então olhe dentro de uma espinha e veja quais micróbios estão por lá. Não importa que essas mesmas bactérias também sejam encontradas na pele saudável de vítimas de acne e na de pessoas sem nenhuma acne. Assim também, não importa que algumas espinhas simplesmente não contenham nenhuma P. acnes. A densidade de P. acnes não está relacionada à gravidade da acne, e níveis de sebo e hormônios masculinos não prognosticam a presença da doença.
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RELAÇÃO DOS ANTIBIÓTICOS COM A ACNE
O fato de que antibióticos, tanto os aplicados diretamente no rosto quanto os ministrados em comprimidos, costumam melhorar a acne tem reforçado essa teoria. Os antibióticos são o tipo de medicamento mais prescrito para espinhas, e muitas pessoas permanecem em tratamento durante meses ou anos.
Mas eles não atingem apenas as bactérias que vivem na pele. Dessa maneira, as do intestino também são afetadas. Sendo assim, o uso de antibióticos altera o comportamento do sistema imunológico.
Seria esse o verdadeiro motivo de sua ação contra a acne?
O que está ficando claro é que a presença de P. acnes não é determinante para o desenvolvimento da acne.
Ainda há debates sobre qual seria o verdadeiro papel desempenhado por essa bactéria da pele, mas estão surgindo novas ideias sobre a contribuição do sistema imunológico para essa doença.
A pele dos pacientes com acne contém células imunológicas extras, mesmo em áreas aparentemente saudáveis. Parece que a espinha é só mais uma manifestação da inflamação crônica. Assim, alguns chegam a cogitar a hipótese de que o sistema imunológico tenha se tornado hipersensível à P. acnes e talvez outros micróbios da pele, deixando de tratá-los como amigos.
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MICROBIOTA INTESTINAL, PROBIÓTICOS E ACNE
Stoke e Pilsburry em 1930 criaram a “consideração teórica e prática do mecanismo gastrointestinal” pelos caminhos no qual a pele é influenciada pelo estado emocional e nervoso. Estes autores conectaram o estado emocional – depressão, ansiedade bem como a preocupação – as alterações na função do trato gastrointestinal. Hipotetizaram que as alterações nos estados emocionais podem levar a mudanças na microbiota intestinal normal, a permeabilidade intestinal e contribuir para a inflamação sistêmica. Assim, o uso oral de probióticos pode regular a liberação de citocinas inflamatórias dentro da pele, e uma regulação específica em interleucina 1 (IL1) seria, certamente, um potencial benéfico no tratamento da acne. Além disso, a utilização de probióticos encapsulados orais têm o potencial de alterar a microbiota em locais além do trato gastrointestinal (BOWE; LOGAN, 2011).
A integridade funcional e a microbiota residente do trato intestinal pode desempenhar um papel de mediação na inflamação da pele.
Assim também, a capacidade da microbiota intestinal e dos probióticos orais em influenciar a inflamação sistêmica, o estresse oxidativo, o controle glicêmico, o conteúdo de tecido adiposo e até mesmo o humor, pode ter implicações importantes na acne.
Cuide da sua microbiota intestinal, o resto virá naturalmente!